domingo, 27 de novembro de 2011

Rasgando o verbo

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João, I, 1)



Certo dia conversando com um amigo, num certo momento, num determinado assunto, ele me disse:

" - Palavras são secas."

Estávamos conversando sobre a boa construção de um discurso político. Ambos concordávamos que para além das palavras; entonação vocal e expressões corporais e faciais coerentes também são peças chaves. A conversa foi se estendendo, o assunto mudou, os dias passaram, mas uma contradição ficou:

" - Será que realmente: palavras são secas?"

Pensando d'aqui e d'ali, logo descobri - mais uma vez - que palavras são mais que mágicas. Palavra ou palavras nunca aparecem sozinhas, sempre estão inseridas dentro de um contexto, portanto, um conjunto de palavras bem intencionado pode criar impactos imagináveis e/ou indesejáveis, por outro lado, outro conjunto de palavras bem posicionado por ser usado estrategicamente para se atingir interesses variados.

Um poema, uma música, um livro, as falas de uma peça de teatro são conjuntos de palavras que despertam sensações diversas, pois, motivam, magoam, convence, fazem desistir etc. É por meio das palavras que a humanidade pode aprimorar sua comunicação... junto à comunicação está a evolução. As palavras que anunciam os conhecimentos também é a interlocutora das emoções.


João Cabral de Melo Neto, inteligentemente, escolheu o nome: "Morte e Vida Severina" ao seu livro que retrata a história de um retirante nordestino que migra do interior do sertão com destino ao litoral. A ordem natural é a vida e depois a morte, mas o primeiro momento de seca e miséria representa a morte, enquanto que a perspectiva de uma condição mais prósperas no litoral é sinônimo de vida. Eis um ótimo e simples exemplo do bom uso das palavras.



Já diziam os antigos que homem de confiança é aquele que tem palavra.


Toda palavra, que necessariamente sai de alguém, exprime um determinado sentido que pode ser interpretado por outro alguém.


Trocando em miúdos, a epígrafe que dá início ao texto aponta que já é de tempos que as civilizações valorizam a palavra. Mostra também o quanto a palavra é apreciada no meio religioso, outra máxima é: "céus e terras passaram, mas a palavra não passará". De fato, muda-se os costumes, os valores e crenças, a tecnologia, mas o uso da palavra está sempre presente.


O título do texto remente ao ato de se ter o livre acesso ao poder de uso da palavra.

Mesmo uma única palavra (isolada) traz um significado:

AMOR
PAIXÃO
VIDA
MORTE

Como já destacado: a palavra é uma dama que se serve do contexto. Geralmente quando o contexto não ajuda, é ele quem se prejudica. As pessoas tendem a se queixar do contexto e não da palavra.

É comum reclamações nas situações seguintes:

AZUL MARINHO

LARANJA

Normalmente se fala/ouvi neste caso:


" - Por que a cor da palavra é rosa se está escrito laranja?", o questionamento é para se alterar a cor e não a palavra.

ou então,
grande Pequeno

ou então,
mINÚSCULO

Pode até ser divertido, mas esses exemplos causam estranheza na maior parte das pessoas.

Também é comum ouvir que o importante não é o que se diz, mas como se diz. Ou então, que certas conversas (palavras) tem hora e local para serem tratadas. O problema mais uma vez não está nas palavras, mas sim, nas circunstâncias do momento que é o pobre do contexto.

Tem palavras que aceitamos com tranquilidade quando vindas de algumas poucas pessoas; de outras pessoas, talvez a maioria, jamais.


Já tem palavras que falamos para qualquer um e ouvimos de todo mundo.


Em outros casos existem palavras certas para certas pessoas.

Enfim, palavra sozinha ou quando acompanhada, jogada com força ou sussurrada, impressa ou verbalizada, é sempre uma palavra contextualizada... pronta para revelar com força e magia uma intenção por parte de quem a expressa.

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