Estava num bar, em Ribeirão Preto - interior de São Paulo, com mais três amigos. Passou um andarilho que interrompeu nosso papo e logo deixamos claro que dinheiro não tinha, pois a conta seria paga no cartão. Na mesa, uma porção de tulipas de frango.
- Pode pegar, fica à vontade. Come com a gente. Disse para ele.
- Não quero comer, também não quero dinheiro... sei que como eu já passou uns cinco por aqui... mas tenho que ser sincero... mas não quero dinheiro... o eu quero... o que eu preciso... vou pedir para vocês então...
Disse para ele:
- Diga amigo!
Enquanto pensava: "Desembucha logo... simplifica".
Dono de uma expressão um tanto sem graça, ele prosseguiu:
- Sabe como é, a gente vive na rua... tudo...
Uma amiga se antecipou:
- É uma pinga que você quer? Se for uma pinga a gente paga, pode pegar lá no balção. Pedi para marcar para nossa mesa.
Respondeu o itinerante com um singelo ar de alívio e contentamento: - É. Abriu-se um sorriso no rosto do rapaz.
Minha amiga concluiu: - Eu que tenho uma vida estruturada, com uma casa para voltar, família, mínimo de condições, tomo as minhas... Agora, imagina viver a realidade da rua de cara?
Bem, são em momentos como estes, além de muitos outros, na vivência cotidiana, que faço alusão e muito bem compreendo a ideia da obra de Chico Buarque explícita na música: "Meu Caro Amigo":
"Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão(...)
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão(...)
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão(...)"

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