Estava num bar, em Ribeirão Preto - interior de São Paulo, com mais três amigos. Passou um andarilho que interrompeu nosso papo e logo deixamos claro que dinheiro não tinha, pois a conta seria paga no cartão. Na mesa, uma porção de tulipas de frango.
- Pode pegar, fica à vontade. Come com a gente. Disse para ele.
- Não quero comer, também não quero dinheiro... sei que como eu já passou uns cinco por aqui... mas tenho que ser sincero... mas não quero dinheiro... o eu quero... o que eu preciso... vou pedir para vocês então...
Disse para ele:
- Diga amigo!
Enquanto pensava: "Desembucha logo... simplifica".
Dono de uma expressão um tanto sem graça, ele prosseguiu:
- Sabe como é, a gente vive na rua... tudo...
Uma amiga se antecipou:
- É uma pinga que você quer? Se for uma pinga a gente paga, pode pegar lá no balção. Pedi para marcar para nossa mesa.
Respondeu o itinerante com um singelo ar de alívio e contentamento: - É. Abriu-se um sorriso no rosto do rapaz.
Minha amiga concluiu: - Eu que tenho uma vida estruturada, com uma casa para voltar, família, mínimo de condições, tomo as minhas... Agora, imagina viver a realidade da rua de cara?
Bem, são em momentos como estes, além de muitos outros, na vivência cotidiana, que faço alusão e muito bem compreendo a ideia da obra de Chico Buarque explícita na música: "Meu Caro Amigo":
"Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão(...)
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão(...)
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão(...)"
domingo, 27 de novembro de 2011
Rasgando o verbo
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João, I, 1)
João Cabral de Melo Neto, inteligentemente, escolheu o nome: "Morte e Vida Severina" ao seu livro que retrata a história de um retirante nordestino que migra do interior do sertão com destino ao litoral. A ordem natural é a vida e depois a morte, mas o primeiro momento de seca e miséria representa a morte, enquanto que a perspectiva de uma condição mais prósperas no litoral é sinônimo de vida. Eis um ótimo e simples exemplo do bom uso das palavras.
Já diziam os antigos que homem de confiança é aquele que tem palavra.
Toda palavra, que necessariamente sai de alguém, exprime um determinado sentido que pode ser interpretado por outro alguém.
Trocando em miúdos, a epígrafe que dá início ao texto aponta que já é de tempos que as civilizações valorizam a palavra. Mostra também o quanto a palavra é apreciada no meio religioso, outra máxima é: "céus e terras passaram, mas a palavra não passará". De fato, muda-se os costumes, os valores e crenças, a tecnologia, mas o uso da palavra está sempre presente.
O título do texto remente ao ato de se ter o livre acesso ao poder de uso da palavra.
Já tem palavras que falamos para qualquer um e ouvimos de todo mundo.
Em outros casos existem palavras certas para certas pessoas.
" - Palavras são secas."
Estávamos conversando sobre a boa construção de um discurso político. Ambos concordávamos que para além das palavras; entonação vocal e expressões corporais e faciais coerentes também são peças chaves. A conversa foi se estendendo, o assunto mudou, os dias passaram, mas uma contradição ficou:
" - Será que realmente: palavras são secas?"
Pensando d'aqui e d'ali, logo descobri - mais uma vez - que palavras são mais que mágicas. Palavra ou palavras nunca aparecem sozinhas, sempre estão inseridas dentro de um contexto, portanto, um conjunto de palavras bem intencionado pode criar impactos imagináveis e/ou indesejáveis, por outro lado, outro conjunto de palavras bem posicionado por ser usado estrategicamente para se atingir interesses variados.
Um poema, uma música, um livro, as falas de uma peça de teatro são conjuntos de palavras que despertam sensações diversas, pois, motivam, magoam, convence, fazem desistir etc. É por meio das palavras que a humanidade pode aprimorar sua comunicação... junto à comunicação está a evolução. As palavras que anunciam os conhecimentos também é a interlocutora das emoções.
João Cabral de Melo Neto, inteligentemente, escolheu o nome: "Morte e Vida Severina" ao seu livro que retrata a história de um retirante nordestino que migra do interior do sertão com destino ao litoral. A ordem natural é a vida e depois a morte, mas o primeiro momento de seca e miséria representa a morte, enquanto que a perspectiva de uma condição mais prósperas no litoral é sinônimo de vida. Eis um ótimo e simples exemplo do bom uso das palavras.
Já diziam os antigos que homem de confiança é aquele que tem palavra.
Toda palavra, que necessariamente sai de alguém, exprime um determinado sentido que pode ser interpretado por outro alguém.
Trocando em miúdos, a epígrafe que dá início ao texto aponta que já é de tempos que as civilizações valorizam a palavra. Mostra também o quanto a palavra é apreciada no meio religioso, outra máxima é: "céus e terras passaram, mas a palavra não passará". De fato, muda-se os costumes, os valores e crenças, a tecnologia, mas o uso da palavra está sempre presente.
O título do texto remente ao ato de se ter o livre acesso ao poder de uso da palavra.
Mesmo uma única palavra (isolada) traz um significado:
AMOR
PAIXÃO
VIDA
MORTE
Como já destacado: a palavra é uma dama que se serve do contexto. Geralmente quando o contexto não ajuda, é ele quem se prejudica. As pessoas tendem a se queixar do contexto e não da palavra.
É comum reclamações nas situações seguintes:
AZUL MARINHO
LARANJA
Normalmente se fala/ouvi neste caso:
" - Por que a cor da palavra é rosa se está escrito laranja?", o questionamento é para se alterar a cor e não a palavra.
" - Por que a cor da palavra é rosa se está escrito laranja?", o questionamento é para se alterar a cor e não a palavra.
ou então,
grande Pequeno
ou então,
mINÚSCULO
Pode até ser divertido, mas esses exemplos causam estranheza na maior parte das pessoas.
Também é comum ouvir que o importante não é o que se diz, mas como se diz. Ou então, que certas conversas (palavras) tem hora e local para serem tratadas. O problema mais uma vez não está nas palavras, mas sim, nas circunstâncias do momento que é o pobre do contexto.
Tem palavras que aceitamos com tranquilidade quando vindas de algumas poucas pessoas; de outras pessoas, talvez a maioria, jamais.
Já tem palavras que falamos para qualquer um e ouvimos de todo mundo.
Em outros casos existem palavras certas para certas pessoas.
Enfim, palavra sozinha ou quando acompanhada, jogada com força ou sussurrada, impressa ou verbalizada, é sempre uma palavra contextualizada... pronta para revelar com força e magia uma intenção por parte de quem a expressa.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Se há conto é porque existe ponto - e vice-versa
Mesmo num único ponto, há muitos contosÉ tanto conto para explicar um ponto
Que quando se começa um novo conto
Já até se esqueceu do próprio ponto
Suposta explicação:
Todo e qualquer assunto, desde debates filosóficos, papo de boteco, uma intriga, reuniões estratégicas até decisões parlamentares tem uma premissa para se atingir um raciocínio e chegar há uma conclusão ou objetivo. Neste caso, o objetivo é o ponto ao qual se refere o texto, sendo que todo objetivo é precedido de uma série de raciocínios e esforços que podem contribuir ou não para se chegar há uma conclusão.
Quando se diz: "Que quando se começa um novo conto/Já até se esqueceu do ponto" o texto traz o ato do convencimento pelo convencimento, por exemplo, quando um advogado de defesa já sem provas e argumentos tenta ainda reverter a situação, ou mesmo,numa briga de casal que ambos insistem em continuar a discussão sem mesmo nem se lembrarem do(s) motivo(s) que provocaram a discórdia.
De um outro ponto-de-vista, o pequeno texto, com expressões bastante genéricas, tenta retratar as diferentes justificativas para o inexplicável, como por exemplo, a enganação sem fundamentos, a crença defendida de forma cega e prepotente, a tentativa do argumento sem contestações, o preconceito que não apresenta uma lógica real etc.
De qualquer modo, embora o texto originalmente refira-se aos argumentos verbalizados, também tem em sua interpretação o sentido que tudo possa ser remetido há conjunto de origens, a exemplo de sentimentos que muitas vezes nunca se tem uma explicação, pelo menos convincente. Indo um pouco mais além, o próprio pensamento é a soma de um conjunto de precedentes, é importante destacar isto, pois o pensamento é base dos argumentos e dos sentimentos, que por sua vez, o sentimento é a base das ações.
Para traçar um paralelo, cito alguns pensamentos já de conhecimento do grande público, como o princípio da Ação e Reação, preconizado como a terceira lei de Newton e outra citação, esta tenho maior identificação, é a dialética hegeliana, que diz: tese + antítese = conclusão. Conclusão esta que gera uma nova tese: ponto, estabeleceu-se um processo cíclico e infinito. A dialética se faz realmente encantadora, pena que pode ser uma poderosíssima arma usada tanto a favor do bem, quando do mal... mas talvez seja isto que explique seu encanto.
Por fim, o texto talvez seja o óbvio visto de uma forma poética.
Observação: o texto é praticamente composto por versos alexandrinos.
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